O Evangelho de Lucas contém a passagem do cego de Jericó.
Segundo ele, perto de Jericó, havia um cego assentado junto do caminho, mendigando.
Ao ouvir passar a multidão, perguntou o que era aquilo.
Responderam-lhe que Jesus, o Nazareno, passava.
Imediatamente o cego clamou, dizendo:
Jesus, filho de David, tem misericórdia de mim.
Os que passavam o repreendiam para que se calasse.
Mas ele clamava ainda mais alto pela misericórdia do Cristo.
Então, Jesus parou e mandou que lhe trouxessem o pedinte.
Quando esse foi posto ao Seu lado, indagou o que queria que lhe fizesse.
O cego respondeu: Senhor, que eu veja.
Jesus lhe disse: Vê; a tua fé te salvou.
O mendigo, imediatamente, passou a ver e a seguir Jesus, glorificando a Deus.
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Essa narrativa enseja interessantes reflexões.
Retrata qual deve ser o propósito dos seres em evolução, perante as bênçãos celestes.
Um miserável se encontrou com o representante da Misericórdia Divina na Terra.
Nessa oportunidade tão magnífica, ele pediu para ver.
O objetivo desse cego honesto e humilde deveria ser o de todos os homens.
Mergulhados na carne ou fora dela, com frequência, se assemelham ao pedinte de Jericó.
O trabalho da vida os chama, apela por eles com veemência.
A luz do conhecimento os abençoa.
O afeto da família os sustenta.
As oportunidades se apresentam, instigantes e preciosas.
Mas eles permanecem indecisos, à beira do caminho.
Quedam inertes, sem coragem de marchar para a realização elevada que lhes compete atingir.
É como se esperassem facilidades imensas.
Como se o trabalho do bem devesse ser feito por privilegiados.
Nesse contexto de preguiça e covardia, por vezes, surge uma revelação espiritual.
De algum modo, dá-se a aproximação com a esfera psíquica do Cristo.
Então, o mundo se volta contra eles.
Esse movimento repressor pode se dar das mais variadas formas.
Pode ser na figura de convites a viver com leviandade.
Ou mediante o discurso desanimador quanto à vitória do bem.
De um modo ou de outro, eles são induzidos à indiferença para com o bem maior.
Então, muito raramente sabem pedir com sensatez.
Por isso mesmo, é muito valiosa a recordação do pobrezinho referido pelo evangelista Lucas.
Não é preciso e nem conveniente comparecer diante do Mestre com volumosa bagagem de rogativas.
Não é sensato pedir por facilidades, influências ou riquezas as mais diversas.
Basta que se lhe peça o dom de ver, com a exata compreensão das particularidades do caminho evolutivo.
Que o Senhor conceda o dom de enxergar todos os fenômenos e situações, pessoas e coisas, com amor e justiça.
Com esse dom, cada qual possuirá o necessário à própria alegria imortal.
Pense nisso.