Curioso, no mundo, é que quase todas as pessoas costumam manter seus guardados. São trastes emperrados, que o apego não permite deles se desfaça. São vestes e utensílios que lembram essa ou aquela ocasião, detendo valores afetivos, conforme se diz nos caminhos terrestres.
Quinquilharias apresentam-se atulhando gavetas várias, assemelhando-se a museus pessoais, detidos nos lares ou em instituições específicas. Vislumbram-se jóias caras, que não são usadas, em virtude do medo, nem têm outra finalidade senão agrilhoar as almas, já de per si tão presas ao amontoado de coisas verdadeiramente sem legítimos valores.
São nossos guardados, afiançamos. Quem nos dera fosse mais fácil guardar virtudes e glórias das conquistas espirituais, em aplicação constante, que, sob nenhuma hipóteses, estariam paralisadas! Quem nos dera fossem nossos guardados utilizados a benefício dos carentes, dos sofredores, adquirindo expressão nobre!
Comentamos, vastas vezes, acerca dos ensinamentos de nosso Jesus, com relação a não fazermos tesouros perecíveis, aqueles que não ficarão em nosso poder ou que são corroídos, consumidos, furtados; entretanto, continuamos a manter guardados inúteis, ao mesmo tempo que alegamos não dispor de recursos de servir a quem suplica amparo.
Ponha-se a criatura a armazenar alegria, para distribuí-las com os tristes; coloque-se o homem a amealhar sorrisos, espalhando bondade pelos caminhos; ajuste-se cada um ao labor de guardar ternura, ofertando-a aos irmãos ao redor, nessa quadra tão crua do sentimento humano, e, sem dúvida, os seus serão os melhores guardados, nas reservas felizes em sua vida, pelo possibilidade de dirigi-los a outros, promovendo júbilos e alevantando vidas.
Guardados que estamos no Amor Divino, guardemos na fé e no trabalho de cada hora o melhor dos nossos empenhos, de modo que, em nome do amor ao próximo, nos libertemos e nos iluminemos, fazendo amigos com os recursos que temos no mundo, como prelecionou Jesus.
(J. Raul Teixeira por Thereza de Brito. In: Nossas riquezas maiores)