Em “Iniciação no Espiritismo”, pergunta G. Mélusson: - “Que é
um espírita?” E responde: “Ser espírita é, antes de tudo, praticar o bem e a
moral que a Doutrina Espírita ensina e isto se pode dar, tanto com um que nunca
assistiu a uma experiência, ou que absolutamente não se interessa pelas
experiências, como com outro que tenha paixão pelos fenômenos, desde o mais
vulgar, o da mesa, até o mais interessante, o da escrita mecânica; desde o mais
maravilhoso, o da incorporação mediúnica, até ao mais incrível, o da
reconstituição temporária do corpo físico do Espírito desencarnado.” E
prossegue: “Outros há, finalmente, que, pelo estudo do verdadeiro Espiritismo,
chegaram à compreensão do dever, à concepção da fraternidade universal e que,
com ou sem os fenômenos, se acham cônscios do destino humano, do porquê da vida,
do objetivo final, e agem de acordo com as idéias que de tudo isso adquiriram”.
E acentua mais adiante - “Importa isto em dizer que o bom espírita possui o
espírito da mais ampla tolerância e indulgência para com todos, menos para
consigo mesmo.” E continua: “O espírita ponderado dá sempre mostras de bom
humor, nunca se encoleriza e esforça-se por combater em si a impaciência, a
vivacidade, a acrimônia. De nenhum modo se zanga e tudo perdoa aos outros;
foge às querelas, ao arrebatamento, à exasperação; jamais se revolta, ainda que
contra a mais flagrante injustiça, que só lhe inspira piedade, sacrifício e
reparação, nunca furor, violência ou desordem. Por isso é que o espírita
refletido é evolucionista e não revolucionário, ao buscar a realização do ideal
de justiça, de fraternidade e de igualdade a que aspira”.
Vê-se, pelo que transcrevemos, como é árduo o trabalho de
reforma íntima a que deve submeter-se quem quer que deseje ser mesmo um
espírita. Tais obrigações são ainda mais rigorosamente reclamadas daqueles que
aceitam a responsabilidade de direção e orientação no Espiritismo. A disciplina
não pode estar longe no comportamento dos disciplinadores. Sendo, como é, o
Cristianismo primitivo em nova fase, o Espiritismo cristão está adstrito às
normas indicadas nas obras da Codificação kardequiana, sob a luz do Evangelho.
(Anuário Espírita 1968).