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Certamente um dos mais polêmicos assuntos e que até hoje a Sociologia não consegue determinar um fim viável porque não possui o enfoque espiritual da coisa, é a desigualdade das riquezas. Allan Kardec, em O Evangelho Segundo o Espiritismo, apresenta o texto "Desigualdade das Riquezas", presente no capítulo XVI intitulado "Não se pode servir a Deus e a Mamon". Leia, compare com nossa realidade atual e tire suas conclusões.
8. A desigualdade das
riquezas é um dos problemas que inutilmente se procurará resolver, desde que se
considere apenas a vida atual. A primeira questão que se apresenta é esta: Por
que não são igualmente ricos todos os homens? Não o são por uma razão muito
simples: por não serem igualmente
inteligentes, ativos e laboriosos para adquirir, nem sóbrios e previdentes para
conservar. É, aliás, ponto matematicamente demonstrado que a riqueza,
repartida com igualdade, a cada um daria uma parcela mínima e insuficiente; que,
supondo efetuada essa repartição, o equilíbrio em pouco tempo estaria desfeito,
pela diversidade dos caracteres e das aptidões; que, supondo-a possível e
durável, tendo cada um somente com que viver, o resultado seria o aniquilamento
de todos os grandes trabalhos que concorrem para o progresso e para o bem-estar
da Humanidade; que, admitido desse ela a cada um o necessário, já não haveria o
aguilhão que impele os homens às grandes descobertas e aos empreendimentos
úteis.
Se Deus
a concentra em certos pontos, é para que daí se expanda em quantidade suficiente,
de acordo com as necessidades. Admitido isso, pergunta-se por que Deus a
concede a pessoas incapazes de fazê-la frutificar para o bem de todos. Ainda aí
está uma prova da sabedoria e da bondade de Deus. Dando-lhe o livre-arbítrio,
quis ele que o homem chegasse, por experiência própria, a distinguir o bem do
mal e que a prática do primeiro resultasse de seus esforços e da sua vontade.
Não deve o homem ser conduzido fatalmente ao bem, nem ao mal, sem o que não
mais fora senão instrumento passivo e irresponsável como os animais.
A
riqueza é um meio de o experimentar moralmente. Mas, como, ao mesmo tempo, é
poderoso meio de ação para o progresso, não quer Deus que ela permaneça longo
tempo improdutiva, pelo que incessantemente
a desloca. Cada um tem de possuí-la, para se exercitar em utilizá-la e
demonstrar que uso sabe fazer dela. Sendo, no entanto, materialmente impossível
que todos a possuam ao mesmo tempo, e acontecendo, além disso, que, se todos a
possuíssem, ninguém trabalharia, com o que o melhoramento do planeta ficaria
comprometido,
cada um a possui por sua vez. Assim,
um que não na tem hoje, já a teve ou terá noutra existência; outro, que agora a
tem, talvez não na tenha amanhã. Há ricos e pobres, porque sendo Deus justo,
como é, a cada um prescreve trabalhar a seu turno.
A
pobreza é, para os que a sofrem, a prova da paciência e da resignação; a
riqueza é, para os outros, a prova da caridade e da abnegação. Deploram-se, com
razão, o péssimo uso que alguns fazem das suas riquezas, as ignóbeis paixões
que a cobiça provoca, e pergunta-se: Deus será justo, dando-as a tais criaturas?
É exato que, se o homem só tivesse uma única existência, nada justificaria
semelhante repartição dos bens da Terra; se, entretanto, não tivermos em vista
apenas a vida atual e, ao contrário, considerarmos o conjunto das existências,
veremos que tudo se equilibra com justiça. Carece, pois, o pobre de motivo
assim para acusar a Providência, como para invejar os ricos e estes para se
glorificarem do que possuem.
Se
abusam, não será com decretos ou leis suntuárias que se remediará o mal. As
leis podem, de momento, mudar o exterior, mas não logram mudar o coração; daí
vem serem elas de duração efêmera e quase sempre seguidas de uma reação mais
desenfreada. A origem do mal reside no egoísmo e no orgulho: os abusos de toda
espécie cessarão quando os homens se regerem pela lei da caridade.