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Educandário
Segundo
a análise dos princípios espíritas a educação é concebida como um caso particular,
basicamente humano, do processo evolutivo que encadeia o átomo e o arcanjo,
numa série de transformismos inerentes à lei do progresso. Trata-se assim o
fenômeno educativo como um desvelar de potencial do ser essência nas suas
manifestações até atingirmos o estágio preconizado por Jesus ao afirmar: sede
perfeitos como perfeito é o Pai Celestial.
Mais
uma vez estamos, neste aspecto das atividades espíritas, enriquecidos por
fundamentos filosóficos e psicológicos para a educação que consideram os avanços
das concepções pedagógicas humanistas centradas numa vida corporal única
e vão além, fazendo os ajustes necessários. Enfatizamos a primazia do espírito
sobre a matéria ao trabalharmos com a informação de que somos seres
espirituais vivendo uma experiência humana.
Por
razões históricas e sociais, no Brasil dos séculos XIX e XX, o movimento
espírita definiu ser prioritário investir na educação do povo seja porque
exercia sua solidariedade com os mais necessitados seja por entender que a
compreensão lingüística, mesmo em moldes tradicionais, favorece a liberdade de
consciência, um passo evolutivo relevante na atualidade e facilita o acesso
intelectual ao saber espírita. Assim nasceram muitas instituições educacionais
comandadas por espíritas, inseridas na rede de ensino oficial e, em
conseqüência, utilizando-se de didáticas que por sua origem se restringem
à formação intelectual, ao cultivo de habilidades psicomotoras e preparação
para o mercado de trabalho e ao cultivo de alguns valores de forma incipiente.
Em alguns casos, quando possível se inseriu em sua grade curricular
momentos de educação moral e religiosa e até mesmo estudos espíritas.
Este
esforço de valorização da educação, uma demonstração clara do sentido de
benemerência difundido nos arraiais espíritas, em certo sentido facilitou
o reconhecimento dos espíritas no meio social e perante órgãos governamentais.
Entretanto, por sua própria natureza, não explorou as fontes do saber espírita
e se tornou uma introdução à prática educacional espírita, hoje muito mais
organizada e diversificada na sua célula máter. Em muitos centros espíritas
ensino-aprendizagem inclui palestras organizadas para públicos
flutuantes, ações didáticas para diferentes faixas etárias com programas
diversificados, estudos específicos de autores, de temas selecionados, grupos
de autoconhecimento e desenvolvimento do potencial humano, práticas educativas
em torno da mediunidade e mais raramente pesquisas.
Construir
um arcabouço teórico-prático e vivencial para as atividades espíritas em
educação é uma demanda cada vez mais significativa para o progresso do
Espiritismo e o cumprimento de sua missão quanto a renovação social. O que já
foi realizado até então, nada desprezível, situa-se como parte do edifício
pedagógico que precisamos erguer .
Tomando
como base o discurso de Allan Kardec sobre a educação do caráter , sua
vivificação e ampliação pelos seguidores que o sucederam, esboça-se o
aproveitamento de todas as faculdades psíquicas, de diferentes estados de
consciência, do uso da compreensão evolutiva e palingenésica como realidades
possíveis no ato pedagógico a partir da cosmovisão espírita.
E
tendo como modelo pedagógico as ações de Jesus e seus apóstolos no Evangelho
deveremos levar em consideração a adequação dos conteúdos e das vivências
educacionais a cada ser em sua zona proximal de aprendizagem pois Ele falava
por parábolas ao povo, reunia um grupo para convivência diária, ampliava
este grupo nos momentos de difusão do Evangelho e o reduzia quando se tratava de
vivências especiais como no monte Tabor ou no jardim das Oliveiras.
Também
deveremos dar ênfase ao finalismo da educação do Evangelho, que o Espiritismo
pretende revitalizar, pois assume como missão sua reviver o padrão
evangélico, e ele nos aponta para um ser educado em conformidade com a lei de
Deus, buscando prioritariamente o reino dos céus, tendo fé a ponto de imitar
Jesus em seus feitos, desapegado dos bens do mundo, amando a ponto de fazê-lo
incluindo os inimigos e dando a própria vida corpórea em favor dos amados, e
fazendo brilhar a luz diante dos homens para a glória de Deus.
Em
decorrência das atividades do educandário deverá florescer uma comunidade
espírita unificada pelo pelos princípios ainda que expressando sua
diversidade evolutiva. Um mais amplo sentido de família será desenvolvido
através de laços espirituais onde todos se reúnem em torno de um projeto
evolutivo individual e comunitário e aporta sua contribuição conforme suas
possibilidades e recebe apoios de acordo com suas necessidades e disponibilidades
da comunidade aos poucos convergindo para uma idealizada situação similar aos
apóstolos que segundo a narrativa de Lucas eram um só pensamento e um só
coração na comunidade original perto de Jerusalém.
Autor: André Luiz Peixinho - Presidente da Feeb
Fonte: Feeb.org