A Tríplice função social do Centro Espírita - Parte II

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Educandário

Segundo a análise dos princípios espíritas a educação é concebida como um caso particular, basicamente humano, do processo evolutivo que encadeia o átomo e o arcanjo, numa série de transformismos inerentes à lei do progresso. Trata-se assim o fenômeno educativo como um desvelar de potencial do ser essência  nas suas manifestações até atingirmos o estágio preconizado por Jesus ao afirmar: sede perfeitos como perfeito é o Pai Celestial.

Mais uma vez estamos, neste aspecto das atividades espíritas, enriquecidos por fundamentos filosóficos e psicológicos para a educação que consideram os avanços das concepções pedagógicas humanistas centradas numa vida corporal única  e vão além, fazendo os ajustes necessários. Enfatizamos a primazia do espírito sobre a matéria  ao trabalharmos com a informação de que somos seres espirituais  vivendo uma experiência humana.

Por razões históricas e sociais, no Brasil dos séculos XIX e XX, o movimento espírita definiu ser prioritário investir na educação do povo seja porque exercia sua solidariedade com os mais necessitados seja por entender que a compreensão lingüística, mesmo em moldes tradicionais, favorece a liberdade de consciência, um passo evolutivo relevante na atualidade e facilita o acesso intelectual ao saber espírita. Assim nasceram muitas instituições educacionais comandadas por espíritas, inseridas na rede de ensino oficial e, em conseqüência, utilizando-se de didáticas que por sua origem se restringem  à formação intelectual, ao cultivo de habilidades psicomotoras e preparação para o mercado de trabalho e ao cultivo de alguns valores de forma incipiente.  Em alguns casos, quando possível se inseriu em sua grade curricular momentos de educação moral e religiosa e até mesmo estudos espíritas.

Este esforço de valorização da educação, uma demonstração clara do sentido de benemerência  difundido nos arraiais espíritas, em certo sentido facilitou o reconhecimento dos espíritas no meio social e perante órgãos governamentais. Entretanto, por sua própria natureza, não explorou as fontes do saber espírita e se tornou uma introdução à prática educacional espírita, hoje muito mais organizada e diversificada na sua célula máter. Em muitos centros espíritas ensino-aprendizagem  inclui  palestras organizadas para públicos flutuantes, ações didáticas para diferentes faixas etárias com programas diversificados, estudos específicos de autores, de temas selecionados, grupos de autoconhecimento e desenvolvimento do potencial humano, práticas educativas em torno da mediunidade e mais raramente pesquisas.

Construir um arcabouço teórico-prático  e vivencial para as atividades espíritas em educação é uma demanda cada vez mais significativa para o progresso do Espiritismo e o cumprimento de sua missão quanto a renovação social. O que já foi realizado até então, nada desprezível, situa-se como parte do edifício pedagógico que precisamos erguer .

Tomando como base o discurso de Allan Kardec sobre a educação do caráter , sua vivificação e ampliação  pelos seguidores que o sucederam, esboça-se o aproveitamento de todas as faculdades psíquicas, de diferentes estados de consciência, do uso da compreensão evolutiva e palingenésica como realidades possíveis no ato pedagógico a partir da cosmovisão espírita.

E tendo como modelo pedagógico as ações de Jesus e seus apóstolos no Evangelho deveremos levar em consideração a adequação dos conteúdos e das vivências educacionais a cada ser em sua zona proximal de aprendizagem pois Ele falava por parábolas ao povo, reunia um  grupo para convivência diária, ampliava este grupo nos momentos de difusão do Evangelho e o reduzia quando se tratava de vivências especiais como no monte Tabor ou no jardim  das Oliveiras.

Também deveremos dar ênfase ao finalismo da educação do Evangelho, que o Espiritismo pretende revitalizar, pois  assume como missão sua reviver o  padrão evangélico, e ele nos aponta para um ser educado em conformidade com a lei de Deus, buscando prioritariamente o reino dos céus, tendo fé a ponto de imitar Jesus em seus feitos, desapegado dos bens do mundo, amando a ponto de fazê-lo incluindo os inimigos e dando a própria vida corpórea em favor dos amados, e fazendo brilhar a luz diante dos homens para a glória de Deus.

Em decorrência das atividades do educandário deverá florescer uma comunidade espírita unificada pelo  pelos princípios ainda que expressando sua diversidade evolutiva. Um mais amplo sentido de família será desenvolvido através de laços espirituais onde todos se reúnem em torno de um projeto evolutivo individual e comunitário e aporta sua contribuição conforme suas possibilidades e recebe apoios de acordo com suas necessidades e disponibilidades da comunidade aos poucos convergindo para uma idealizada situação similar aos apóstolos que segundo a narrativa de Lucas eram um só pensamento e um só coração na comunidade original perto de Jerusalém.


Autor: André Luiz Peixinho - Presidente da Feeb
Fonte: Feeb.org