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Uma das produções cinematográficas que mais
tem arrastado público aos cinemas do Brasil nos últimos dias é o filme Noé. Em
termos de produção, inegavelmente, o filme é fantástico, mas quanto a esse
assunto, qual a sua opinião?
Apresentamos abaixo as informações de Allan
Kardec sobre o Dilúvio. O texto compõe o capítulo IX de A Gênese, Revoluções do
Globo, no ítem Dilúvio Bíblico. Leia e tire suas próprias conclusões.
“O dilúvio bíblico, também conhecido pela
denominação de “grande dilúvio asiático”, é fato cuja realidade não se pode
contestar. Deve tê-lo ocasionado o levantamento de uma parte das montanhas
daquela região, como o do México. Corrobora esta opinião a existência de um mar
interior, que ia outrora do mar Negro ao oceano Boreal, comprovada pelas
observações geológicas. O mar de Azov, o mar Cáspio, cujas águas são salgadas,
embora nenhuma comunicação tenham com nenhum outro mar; o lago Aral e os
inúmeros lagos espalhados pelas imensas planícies da Tartália e as estepes da
Rússia parecem restos daquele antigo mar.
Por ocasião do levantamento das montanhas do
Cáucaso, posterior ao dilúvio universal, parte daquelas águas foi recalcada para
o norte, na direção do oceano Boreal; outra parte, para o sul, em direção ao
oceano Índico. Estas inundaram e devastaram precisamente a Mesopotâmia e toda a
região em que habitaram os antepassados do povo hebreu. Embora esse dilúvio se
tenha estendido por uma superfície muito grande, é atualmente ponto averiguado
que ele foi apenas local; que não pode ter sido causado pela chuva, pois, por muito
copiosa que esta fosse e ainda que se prolongasse por quarenta dias, o cálculo
prova que a quantidade d’água caída das nuvens não podia bastar para cobrir toda a terra, até acima das mais
altas montanhas.
Para os homens de então, que não conheciam mais do que
uma extensão muito limitada da superfície do globo e que nenhuma idéia tinham
da sua configuração, desde que a inundação invadiu os países conhecidos,
invadida fora, para eles, a Terra inteira. Se a essa crença aditarmos a forma
imaginosa e hiperbólica da descrição, forma peculiar ao estilo oriental, já não
nos surpreenderá o exagero da narração bíblica. O dilúvio asiático foi
evidentemente posterior ao aparecimento do homem na Terra, visto que a
lembrança dele se conservou pela tradição em todos os povos daquela parte do
mundo, os quais o consagraram em suas teogonias. É igualmente posterior ao
grande dilúvio universal que assinalou o início do atual período geológico.
Quando se fala de homens e de animais antediluvianos, a referência é àquele
primeiro cataclismo”.
Kardec ainda explica em nota de rodapé que: “A lenda indiana sobre o dilúvio refere, segundo o livro dos Vedas, que
Brama, transformado em peixe, se dirigiu ao piedoso monarca Vaivaswata e lhe
disse: “Chegou o momento da dissolução do Universo; em breve estará destruído
tudo o que existe na Terra. Tens que construir um navio em que embarcarás,
depois de teres embarcado sementes de todos os vegetais. Esperar-me-ás nesse
navio e eu virei ter contigo, trazendo à cabeça um chifre pelo qual me
reconhecerás.” O santo obedeceu; construiu um navio, embarcou nele e o atou por
um cabo muito forte ao chifre do peixe. O navio foi rebocado durante muitos anos
com extrema rapidez, por entre as trevas de uma tremenda tempestade, abordando,
afinal, ao cume do monte Himawat (Himalaia). Brama ordenou em seguida a
Vaivaswata que criasse todos os seres e com eles povoasse a Terra. É flagrante
a analogia desta lenda com a narrativa bíblica de Noé. Da Índia ela passara ao
Egito, como uma multidão de outras crenças. Ora, sendo o livro dos Vedas
anteriores ao de Moisés, a narração que naquele se encontra, do dilúvio, não
pode ser uma cópia da deste último. O que é provável é que Moisés, que
aprendera as doutrinas dos sacerdotes egípcios, haja tomado a estes a sua descrição.