Ante o Remorso


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Quando desci chorando, desatento,
A garganta cruel da sepultura,

Cria abraçar, na morte, a noite escura
Que me desse consolo e esquecimento.

Ai de mim, relegado ao desalento,
Preso à triste ilusão que não perdura!...
Desvairado encontrei, nessa ventura,
O remorso medonho e famulento...

Aterrado, gritei: - "Monstro recua!"
E o monstro , em gargalhada horrenda e nua,
Bradou: - "Eu sou agora o irmão que levas..."

E, misto de morcego, gralha e aborto.
Atirou-me a sinistro desconforto,
Mergulhando comigo em densas trevas.
                             Anthero de Quental